Black Music sob Máscaras Brancas: Beatles 64
Beatles '64 (2024)
Por Lucas Tavares
DIREÇÃO: David Tedeschi
PRODUÇÃO: Martin Scorsese, Margaret Bodde, Paul McCartney, Ringo Starr, Olivia Harrison, Sean Ono Lennon, Jonathan Clyde, Mikaela Beardsley
MÚSICA: The Beatles, com remixes de Giles Martin
FOTOGRAFIA: Ellen Kuras
MONTAGEM: Mariah Rehmet
DISTRIBUIÇÃO: Disney+
DURAÇÃO: 106 minutos
GÊNERO: Documentário, Música
DATA DE LANÇAMENTO: 29 de novembro de 2024
ORIGEM: Reino Unido, Estados Unidos
Tedeschi e Scorcese, como produtor, fizeram algo que jamais havia visto em um
documentário dos Beatles: unir a Beatlemania com o caos social que os Estados
Unidos se encontravam em 1964 e em todos os anos 60.

Beatles embarcando nos EUA
O documentário
começa mostrando o assassinato de Kennedy. Toda a esperança de uma "Nova
América" estava sendo despedaçada por ondas de violência, talvez pela
inserção da classe operária em zonas que não poderiam estar, como em um
Carnegie Hall ou na Presidência, ou talvez pela fragmentação do espírito
"Jim Crow". Os Beatles eram a invasão preta mascarada de branca nos
EUA dos anos 60.
A música que
os Beatles faziam era completamente influenciada pela Black Music, porém sob
máscaras brancas. Little Richard era copiado pelos brancos, já que sua música
deveria ficar retida nos guetos do Bronx ou Queens. As plateias eram
segregadas, de um lado os pretos e do outro os brancos, para assistir ao show
que se adequasse a suas raças. Beatles vieram para unir, a música preta à
população branca. E foi devido a essa transgressão que os pais e os mais velhos
dos EUA repudiaram tanto a inserção dos Beatles na indústria fônica do país.
As meninas
loucas que viam em George, Ringo, Paul e John uma atração sexual eram
defrontadas com uma elite que os viam como desajeitados e repugnantes. O staff
do Carnegie Hall, um teatro da alta classe, achava que os Beatles eram um
conjunto de cordas. Após "She loves you", o staff disse "we hate
them". Como pode, 4 meninos de Liverpool, com música preta querer tocar em
um teatro refinado e de música clássica? Como pode, membros da classe operária
em uma embaixada britânica?
O Documentário
narra a passagem dos Beatles em Nova York, e todo o assédio que sofreram no
Plaza Hotel, em Washington, com o show do Coliseu, e depois em Miami, no Ed
Sullivan Show. Ao decorrer disso, contam os relatos dos próprios membros da
banda acerca do que estava acontecendo, das entusiastas irracionais - que
demonstravam o sentimento por meio dos gritos -, aqueles que viam os Beatles
como uma luz no fim do túnel diante do caos social, e os críticos que
analisavam a banda como veneno para os jovens pôr os deixarem
"loucos" com sua música.
Scorcese
consegue, na montagem, unir a diversão que caracterizava os jovens de Beatles
nas entrevistas, com o receio da violência, tendo em vista o assassinato de
Kennedy, e toda a revolução musical e cultural que causaram nos EUA e em todo o
mundo.
O que achei
mais incrível foi separar uma parte do documentário para mostrar toda a
influência da Black Music na música dos Beatles e as razões, ou possíveis
razões, da Beatlemania - estas que serão respondidas quando assistir ao
documentário.
Outro relato
interessante é o do Ianque deportado, um dos dois jovens de Nova York que foram
para Liverpool por ser lá a "fonte do rock". Conseguiram fugir da
imigração por um tempo e tocar no Cavern Club e ficarem na capa dos jornais
britânicos. John havia visto isso e, após muitos anos, um dos Ianques viria a
ser seu engenheiro musical.
Dirigido por
David Tedeschi e produzido por Martin Scorcese, Beatles 64 é uma experiência
única e fascinante que, além de mostrar a passagem dos Beatles nos EUA, os
insere na realidade social que o país vivia e o papel que a banda iria fazer
nela. Disponível para assistir no Disney Plus.
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| Capa do Documentário |


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