Obra Prima da Música Popular Brasileira: Carlos, Erasmo
Carlos, Erasmo
(1971)
Por Lucas Tavares
Com tudo e
mais um pouco, Erasmo produz um triunfo, que abalou o Brasil no passado e
retoma seu poder no hoje.
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| Capa do álbum em Vinil |
A primeira
música lembra um samba com a guitarra num estilo funk fazendo magia, e uma
cuica muito boa: "De Noite na Cama". A segunda música:
"Masculino e Feminino", de Erasmo e Mariana Fossa, é uma balada
linda, fenomenal, com uma guitarra no fundo fazendo slides ou na pentatônica,
acompanhando um violão que combina perfeitamente com a voz de ambos, que se
repartem fazendo uma coordenação perfeita. A terceira faixa é a que me fez
ouvir o álbum, com uma clara referência às necessidades de lutar contra a
ditadura, mas com uma suavidade que a impedia de ser censurada, podendo ser
relacionada a lutar ante qualquer realidade desafiadora ou autoritária. É sobre
não ficar calado, sair da zona de conforto e agir contra o absurdo: "É
preciso dar um jeito, meu amigo".
Algo que amei
no álbum é a presença da guitarra estilo George Harrison, não sei se o Erasmo o
ouvia, e uma guitarra crunshada às vezes para ditar o tom que a música
necessita. Além disso, a música tem sopros no final, com uma subida melódica
dessa guitarra crunshada no estilo funk, repetindo e abafando, e Erasmo
repetindo que é preciso dar um jeito.
Depois, com um
piano e o baixo fazendo a marcação, e uma guitarra realizando um solo perfeito,
para dar vez a Dois Animais na Selva Suja da Rua. Um rock de verdade, com tudo
que tem direito. Acho que já é perceptível que cada música apresenta um estilo
único, ou a junção dos estilos. Eu li sobre o álbum e vi a incidência da
Tropicália, que buscava aproximar a música dos aspectos da cultura popular, do
samba, pop, rock e psicodelia (esta carregada pelos Mutantes, que amo de ante
mão). Assim, propunha a fragmentação com a Bossa Nova, revolucionando e
transfigurando toda a música brasileira.
A música
"Gente Aberta" me lembra MUITO "Eu Vou Ter Saudades" da
banda O Terno, pelo menos no começo. Não sei se eles se basearam ou se Erasmo
possui influência, mas eu achei muita, até na entrada da guitarra e a
estridência da voz de Erasmo quando diz: eu vou, como o Tim Repetindo e a
guitarra crunshada entrando em seguida. Se na crítica anterior eu falei de
Montley Crue, temos uma guitarra com o Gain no Máximo, estilo Tony Iommi, e
vozes como o Quarteto do Si, estilo Beach Boys, sabe? Tipo Coral, com as vozes
juntas e depois combinando Chora Mais com Agora Ninguém Chora Mais, mano, essa
música é uma maravilha. Sodoma e Gomorra... um épico lindo, que me lembrou
"O meu país", de Zé Ramalho na Nação Nordestina.
Em "Mundo
Deserto", temos a abertura de um filme ou de uma baita cena de ação, com
um riff magnífico, e uma junção da guitarra com sopros que entregam obra prima.
"Não te quero santa" retoma o estilo empregado em "Menino,
Menina", uma baladinha bem gostosa de ouvir, com no fundo o baixo e a
bateria realizando as companhias, fazendo referência à fragmentação do Brasil
sacralizado, cuja religião dominava o ser e o restringia de ser (bem no estilo
sartreano mesmo, no mais abstrato resumo). "Ciça, Cecília" é um
sambinha muito bom, estilo até Bossa Nova, com um pianinho acompanhando sopros
e percussão, não se vê a presença da guitarra elétrica, mas, inovando em seu
jeito de ser, com o coral presente. Na verdade, a guitarra aparece bem no
fundinho fazendo um solo, mas clean, estilo soul. Música boa demais!
"Em busca
das canções perdidas" junta baixo, piano, coral, uma melodia
melodramática, com um sopro no fundo que me lembrou as entradas de Morricone.
Pode ser tratada como um épico que vai crescendo, dando vez à guitarra e à
bateria dando o tom, aglutinando tudo em uma mutação única e sensacional.
Depois vou ver quantas vezes falei magnífico e sensacional, 26 anos de vida
normal vem com uma guitarra magnífica no começo, no "Arwn-Arwn" ou
"Wah-Wah", juntando samba, rock e tudo mais, muito boa, propondo uma
reflexão profunda sobre a passagem de tempo e a conformidade com a vida
cotidiana, uma monotonia que acompanha o padrão de ser do capitalismo:
trabalhar, ler jornal, e vai indo, no jeito naturalizado de ser. Tem uns
efeitos Sci-fi bem bacana também.
"Maria
Joana" é um sambinha muito bom também. Acho que Erasmo ouviu Beach Boys
para fazer esse álbum, ou os grupos de corais dos anos 60 e por aí. Inclusive,
falando de tropicalismo, lembrei da noite de 67 ou 68 que fizeram a
manifestação contra a guitarra elétrica e invasão do som estadunidense no
Brasil, como se isso retirasse as raízes brasileiras ou que o internacional
tomasse o lugar do nacional: o segundo de fato ocorreu, mas acho que foi algo
pós anos 80, pois enquanto a Tropicália vivia e revolucionava, acho que o
"americano" não tinha vez em solo tupiniquim.
Para finalizar
o álbum, temos "A Semana Inteira", com uma levada de violão e baixo
muito boa, com uma bateria somente ditando o tom: música romântica de muito
alto estilo, com o jeito romântico de ser com a entrada dos sopros. Uma
daquelas músicas que se aprende para tocar para a amada, a fim de que se
apaixone ou de ser fofo. Linda, linda, e linda toda a vida. Me lembrou, também,
Roberto Carlos.
"Você não pode nem imaginar / O que causou em mim / Esperar uma semana inteira / É tão ruim".
Um trecho que é a maior verdade, que começa após o tchau
da pessoa que ama, e que somente passa com seu abraço, mas que retorna nos
momentos finais que, mesmo juntos, possuem o sentimento da perda ou o cíclico
de saudade.



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