Filme Lolita (1962), por Nicholas Mello

Lolita (1962)

Por Nicholas Mello

 

DIREÇÃO: Stanley Kubrick

ELENCO: James Mason, Sue Lyon, Shelley Winters, Peter Sellers, Gary Cockrell, Jerry Stovin, Diana Decker, Lois Maxwell, Cec Linder, Shirley Douglas

ROTEIRO: Vladimir Nabokov, baseado no seu romance homônimo

PRODUÇÃO: James B. Harris

MÚSICA: Nelson Riddle

FOTOGRAFIA: Oswald Morris     

MONTAGEM: Anthony Harvey

DIREÇÃO DE ARTE: Bill Andrews

 

NOTA: 9

    Sou da opinião de que livros e filmes não devem ser comparados. Em se tratando de formas de arte diferentes, com uma série de valências inerentes a elas mesmas, uma comparação objetiva sobre qual delas seria melhor ou pior é inócua, ainda que seja válida uma comparação subjetiva descompromissada. Porém, o fato de literatura e cinema não poderem ser comparados objetivamente não impede que a experiência de assistir um filme seja complementada por um livro base e vice-versa. Isso ocorre com o polêmico livro "Lolita", de Vladimir Nabokov, que encontra na adaptação para o cinema de 1962, dirigida por Stanley Kubrick, um adendo mais que válido à leitura.

    O grande mérito de "Lolita", de Kubrick, é o fato do filme não se restringir apenas à perspectiva do pedófilo Humbert Humbert (James Mason), como no livro. A mãe de Lo, Charlotte Haze (Shelley Winters), assim como a própria Lolita (Sue Lyon), são muito bem desenvolvidas psicologicamente em tela. No filme, a relação de Charlotte com o falecido Sr. Haze é determinante para entender as motivações da personagem. Já Lolita, apesar de parecer manipuladora, é uma criança indecisa perante os acasos de seu destino trágico. Ainda assim, ela, por mais fútil que seja, demonstra sensibilidade quando se diz triste ao ver um gato atropelado na estrada ou quando está atuando em uma peça de teatro. Quanto a H.H., o mais difícil de gerar empatia no espectador, sua retratação é a de um pedófilo, mas um pedófilo letrado, erudito, que por mais monstruoso que seja, consegue demonstrar humor nas suas reações contidas em relação a fatos diversos que não o agradam - mérito da atuação de James Mason. Ele é um ser asqueroso, mas de uma forma doentia e obsessiva parece amar realmente Lolita; sua dor ao perdê-la ao final é genuína. Kubrick conseguiu fazer um filme, em colaboração com Nabokov, que escreveu o roteiro, sobre a condição humana em suas mais variadas facetas. Lolita não deixa também de ser uma espectadora, como nós, dessa representação da condição humana: a sra. Haze é uma desvairada que quer se livrar da filha; H.H., o aparente europeu educado e culto que esconde em sua polidez os desejos mais vis; e Clare Quilty (Peter Sellers), o homem igualmente vil, mas que faz questão de não esconder sua depravação moral.

    A direção de Stanley Kubrick aqui é primorosa, principalmente na parte inicial da obra, quando H.H. está hospedado na casa de Charlotte, a famosa Lawn Street 342, e o diretor consegue transitar com a câmera pela residência com absoluta naturalidade e suavidade. Por ter preferido começar a história já pelo ato final, com H.H. indo matar Quilty - a representação do assassinato, com Quilty escondido atrás de um quadro, e os tiros sendo dados na pintura de uma adolescente que, segundo Thomas Nelson, estudioso da obra de Kubrick, parece uma das damas de Gainsborough do século XVIII, é brilhante -, o filme perde um pouco sua força ao término; sua conclusão, apesar de boa, é um tanto abrupta e expositiva.

    A trilha sonora de Nelson Riddle, um dos mais eminentes arranjadores de Frank Sinatra, em certos momentos tem um tom de música quase infantil, um iê-iê-iê que contrasta com a sordidez que acompanha as personagens. A fotografia de Oswald Morris, por sua vez, é de um preto e branco cheio de realces.

    Se Lolita no início é uma espectadora desses adultos quase idiotizados, ao fim ela passa a fazer parte do grupo, uma mulher pobre e grávida, casada com um homem pueril, que ao conversar com o "sogro" (H.H.) pouco tem a dizer de relevante. Lolita cresceu e sua futilidade de criança se transformou em uma futilidade de adulto, sua sensibilidade, porém, parece ter se perdido em meio a vida medíocre.

LOLITA
Capa do Filme


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