No Calor da Noite, por Nicholas Mello
No Calor da Noite (1967) (In the Heat of the Night)
Por
Nicholas Mello
DIREÇÃO: Norman Jewison
ELENCO: Sidney Poitier, Rod Steiger, Warren Oates, Lee Grant, Larry Gates, William Schallert
ROTEIRO: Stirling Silliphant, baseado no romance de John Ball
PRODUÇÃO: Walter Mirisch
MÚSICA: Quincy Jones
FOTOGRAFIA: Haskell Wexler
MONTAGEM: Hal Ashby
DIREÇÃO DE ARTE: Paul Groesse
NOTA: 9
O trem atravessando a noite, com
os créditos iniciais passando e a música cantada por Ray Charles ao fundo,
começam a construir desde já para o espectador um cenário nada agradável. A
placa na entrada da cidade com os dizeres aparentemente aprazíveis: "You
are now entering the city of Sparta: welcome", que a câmera faz questão de
focalizar, não nos engana. Há algo de errado na cidade que vai muito além do
corpo assassinado que aparece inesperadamente: o racismo, às vezes estrutural,
latente dentro do âmago social da população provinciana, outras vezes velado.
"In the Heat of the
Night" é um thriller em sua estrutura, mas seu objeto de estudo é o
racismo. Isso fica claro quando Sidney Poitier é detido sem nenhuma
justificativa a não ser pela sua cor - preta - pelo patrulheiro Warren Oates,
que acabara de encontrar o corpo morto de um empresário famoso na cidade e vira
na pele negra o principal culpado. Poitier, entretanto, é um policial também,
da Seção de Homicídios de Philadelphia, ganha mais que todos os policiais de
Sparta juntos. Começa aí o embate no âmbito moral entre Poitier e o chefe de
policia branco (Rod Steiger), que simplesmente não consegue admitir, ou mesmo
conceber, como um negro pode ser um dos melhores policiais em seu ramo.
Tudo piora quando o chefe daquele
o obriga a ficar na cidade para ajudar este a solucionar o crime, pois Sparta é
um território hostil, muito parecido com a Mississippi que seria retratada em
"Mississippi Burning" (1988), de Alan Parker. Steiger apesar de
relutar, acaba aceitando a ajuda de Poitiers, e gradativamente passa a
admirá-lo, ao ponto de no final do filme haver um sentimento de cumplicidade
entre os dois.
O roteiro de Stirling Silliphant,
baseado em livro de John Ball, acerta ao não colocar sobre Poitier matizes
exclusivamente altruístas. Ele erra ao achar que Eric Endicot (Larry Gates),
rival do empresário morto, é o mandante do crime. O motivo é claro: Endicot é
um racista descarado - sua mansão com o mordomo negro subserviente demonstra
isso -, e Poitier, tomado por raiva irascível, quer "derrubá-lo de seu
pedestal".
A fala de Steiger é certeira:
"Oh, meu Deus. Cara, você é igualzinho ao resto de nós". Ao colocar o
negro vítima de racismo como uma pessoa que também erra, a personagem de
Poitier ganha humanidade. Norman Jewison, por sua vez, destaca-se não tanto por
sua habilidade em sequências de ação, mas mais em cenas de diálogo, como, por
exemplo, na belíssima conversa sobre solidão entre Poitier e Steiger, na casa
deste, com ambos meio bêbados.
Ainda que a investigação não seja
tão bem resolvida, uma vez que existem muitas coincidências e achismos no
percurso até encontrar o verdadeiro assassino, "In the Heat of the
Night" consegue manter a curiosidade do espectador sempre desperta, característica
dos bons suspenses.
Ainda assim, mesmo que nunca vá
por um caminho panfletário, o cunho social é a força do filme. Poitier está
muito bem no seu papel, mas quem rouba a cena é Steiger, absolutamente
magnético em sua atuação.
Destaque para a trilha sonora de
Quincy Jones e para a fotografia de Haskell Wexler, que cria um ambiente quente
com suas cores - todos os personagens parecem estar sempre suados. A montagem
de um iniciante Hal Ashby já demonstra os talentos de um futuro diretor, que
viria a estrear com "The Landlord", em 1970, e que faria um dos
grandes filmes da década, "Being There" (1979).
| Capa do Filme |
O vídeo a seguir é a música tema do filme: In the Heat of the Night, de Ray Charles.

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