A vida de Chuck
ou a Vida que Chuck nunca teve
39 anos, ótimos 39 anos, em que se viveu somente 10, os primeiros 10, que também podem ser os últimos 10: os 10 últimos segundos para o Big-Bang - e só no fim do mundo, o mundo parabenizará Chuck por seus 39 anos. Este é o terceiro ato.
A dança. Dança é movimento; paixão; emoção; vida. A vida pulsa com a dança: em cada batida da bateria, a vida vibra, e mesmo sem querer demonstrar a razão, você dança, e dança, primeiro sozinho e depois acompanhado, sente a música, e dança. Em um show de baterias aleatório e com uma desconhecida, você dança, lembrando, mesmo sem expor, do primeiro baile, que apesar da vergonha, dançou com quem seria seu primeiro e eterno amor. A desconhecida lembrava ela, não em feição, mas nos passos, que por ocasião da vida, a caneta os aprisionou em um distante sonho. Este é o fim do segundo a caminho do primeiro ato.
Perdeu os pais em um acidente, ficou morando com os avós - enquanto o avô bebia e vivia na matemática e nos vídeos de Carl Sagan, a avó quebrou a tristeza com a dança. Foi a dança que salvou a avó de Chuck da tristeza, e ela ensinou para seu neto o poder dos passos e da dança: Chuck levou o talento para a escola, e se tornou um ótimo dançarino. Porém, em um baile de formatura, só conseguiu se soltar sozinho, e foi com si que conseguiu as forças para pedir à sua amiga, que viria a ser sua esposa, para dançar, e dançaram, e foi lindo, lindo mesmo. Após isso, ele machucou sua mão.
Inicialmente, ele disse que foi brigando com o menino que sua esposa à época estava ficando. Mas, não. Foi dançando, sozinho, pulando os degraus como se estivesse subindo as escadas da Philadelphia como Rocky; era uma descoberta como ser, ele era dançarino, e na abertura dos braços, machucou sua mão em uma grade, e foi embora.
Seu avô partiu, faleceu. Viu sua morte no último andar de uma casa que te faz pensar que o filme é uma versão de "Tudo em todo lugar ao mesmo tempo", mas não. Não vou entrar na onda de um possível "mochileiro das galáxias" ou um spin-off desses diversos filmes de multiversos por aí.
É um filme sobre: não seja um talento desperdiçado. Chuck, esse menino que tinha a vocação em ser dançarino, teve de se encantar pela arte - lucrativa - da matemática, e se tornou um contador, bancário, como seu avô - que também era meteorologista.
Chuck nunca foi o que quis ser por nunca poder ser o que sempre quis ser. Sua potencialidade esteve inerte pela necessidade de ter uma profissão com demanda. Dança não tem demanda, mas a matemática sim.
Todos nós pensamos nisso: será que eu sigo o que minha vocação queria que eu fosse. Eu antecipo: não. Não, pelo menos eu não sou ou faço aquilo que profissionalmente sempre quis fazer: será por quê não é lucrativo? Pelo medo de ninguém se interessar? Talvez esse blog seja a razão ou a resposta.
"I am wonderful, i deserve to be wonderful, and i contain multitudes"
Enfim, encerro esta resenha deste filme "A vida de Chuck" com uma frase de outro filme que é perfeito: "Don't be a wasted talent", de Bronx Tale.

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